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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Parte Seis - O Orfanato

Noah partira, e Lucilly esperava corajosamente pelas conseqüência de seus atos, como em uma visão ela viu os guardas do clero a pegarem pelos braços e a jogarem no chão como uma mulher qualquer.
- vagabunda, devia saber que uma jovem que esconde um desertor em seu quarto não passa de uma vagabunda qualquer. - Dizia o guarda.
Lucilly não derramou uma lágrima.
- fiz o que uma boa cristã faria. - o guarda lhe deu um tapa.
- ficará nessa casa imunda até o fim da guerra. Trabalhar e morar aqui será sua punição, o Excelentíssimo Bispo não ficará contente ao saber que perdemos Verch - sentenciou o Padre.
Lucilly tomou as mãos do Padre e tocou-lhe com os lábios.
- Como o senhor desejar.
- Não o toque! - um dos guardas empurrara Lucilly para longe de Erik Hellige, o Padre pareceu sorrir, algo naquela situação o agradava.
Erik caminhou até a porta e entregou um pequeno saco de veludo preto nas mãos da senhora que cuidava do orfanato.
- Pela agradável estadia. - o Padre murmurou ironicamente com um malicioso sorriso no canto da boca.
Após os guardas passarem pela porta, a senhora desabou em sua cadeira de balanço e começou a chorar.
- Eles se foram enfim... meu coração voltou a bater - a senhora suspirou - não nos apresentamos meu bem, mas devido as circunstancias, vejo que ficara mais tempo do que imaginamos, me chamo Úrsula Bennington.
Lucilly sorriu, caminhou até onde a senhora estava e lhe apertou a mão.
- Sophia... Sophia Brühl.
Devido as futuras circunstâncias, Lucilly não seria mais Lucilly para suas novas relações sociais, agora ela seria Sophia. Ela fugiria em breve, e pretendia manter o padre e sua guarda longe. Ela deveria manter o nome de sua família limpo, não poderia manchar a honra de Leon, ela não carregaria tanta culpa em sua consciência.

Lucilly finalmente deitou-se em sua cama, após cuidar das crianças. Seus pensamentos intercalavam entre as faces de Noah e Leon, ela se sentia confusa, era nova e inexperiente para entender tudo que se passava por sua mente e queimava em seu coração. Ela desejava viver cada momento de sua vida, mas sentia que isso não seria possível em tempos de guerra, esse sentimento surgiu dentro dela a partir do momento em que a tiraram de casa, ela notara o quanto estivera presa em seu casarão, ficar junto de Leon não era ruim, mas havia muitas coisas para se ver fora da Vila, mesmo sendo coisas ruins, por um lado a guerra iria ajudá-la a crescer, se tornar uma mulher independente, era apenas nisso que Lucilly conseguia pensar agora, seu corpo mudava, e sua cabeça deveria acompanhar o processo, a evolução. Lucilly iria sugar tudo o que a guerra poderia lhe ensinar.

O orfanato era estranhamente silencioso, as pobres crianças temiam pelo perigo constante, a guerra lhes ensinara a ser pacientes e fazer apenas o necessário para viver, Beber, comer e dormir. As crianças não brincavam e Lucilly prometeu a si mesma que assim que a neve derretesse ela iria levá-las para fora, ou melhor, levaria eles para fazer uma guerra na neve, coincidia com os tempos de trevas.

Logo ao crepúsculo da manhã, sob a luz mágica Lucilly puxou as crianças para fora do casebre de madeira. Eram apenas onze crianças as outras haviam falecido por doenças que a neve e a guerra trouxera, um infortúnio. Mas Úrsula precisava seguir em frente e cuidar das novas crianças que surgiam a beira da estrada, muitas vezes feridas. A felicidade que transparecia por de trás dos olhos daquelas crianças não apenas contagiaram Lucilly mas como a Senhora Bennington, elas decidiram então viver esse mesmo momento a cada manhã cinzenta, como um remédio para a esperança antes frágil em seus corações.

- Nicholas! - Lucilly ouviu a Senhora Bennington gritar no décimo dia em que brincavam na neve. Ela fez algo incomum, correu de encontro a um belo jovem e de braços abertos, como se ele fosse um milagre. - Nicholas! - e ela o abraçava fortemente.

Após alguns segundos e muitas lagrimas, a Senhora Bennington trouxe o jovem rapaz para perto de Lucilly que se encontrava sentada em uma rocha próximo a casa observando as crianças se sujarem na neve misturada com lama.
- Joseph! não ponha a mão suja de lama na boca! - Lucilly avisou.
- Sophia meu bem, desejo que conheça esse rapaz, que iluminou nosso dia aparecendo aqui, uma surpresa maravilhosa! este é Nicholas Henryk.
- Prazer, Sophia Brühl.
O rapaz lhe estendeu a mão mas ele parecia hipnotizado, Lucilly não entendia sua expressão mas a presença do rapaz lhe agradava, as crianças pareciam o conhecer e o saudavam.
- Nicholas cresceu nesse orfanato, partiu para trabalhar e me envia cartas freqüentemente, sempre avisa quando vem me visitar, me sinto tão alegre, você irá gostar dele, é um bom rapaz, me ajuda com as crianças e as despesas. Ele é como um filho para mim.

Úrsula não escondia seus sentimentos e sua adoração pelo belo e jovem rapaz, Lucilly se sentiu contagiada pela súbita felicidade que pairava no ar, ela via tantos sorrisos que era impossível esconder o seu, Nicholas brincava com as crianças mesmo suas malas estando jogadas na neve enlameada, então Lucilly as pegou e levou para o quarto mais vazio, o convidado dormiria no chão provavelmente. Uma das malas Lucilly notou ser a capa de um instrumento, curiosa ela a abriu e encontrou um violino quase novo, ele era um musico? que fantástico pensou, nunca conhecera alguém com talentos artísticos. Sua mãe escutava raramente o radio, mas ela apreciava o som que ouvia quando comparecia em festas onde se apresentavam pequenas orquestras que tocavam para as elegantes famílias que moravam nos casarões. Ele tocaria para ela, Lucilly o faria tocar.

Durante o humilde jantar que a Senhora Bennington conseguira preparar para o adorável convidado, Lucilly agora se sentia hipnotizada, ele não olhava para ela, encarava a comida e sorria vez ou outra de alguma brincadeira de Joseph, a criança mais humorada do orfanato.
- Nicholas sinto muito... não estava preparada para sua visita. – Úrsula se lamentou.
- Está perfeito, eu juro. – Ele lançou um breve olhar para Lucilly que se sentiu nervosa e desviou os olhos.

Nicholas era certamente muito belo e encantador, aparentava ter pouco mais de vinte anos, seus cabelos era compridos até os ombros e castanho claros, preso em um delicado rabo de cavalo, seus olhos eram cor de mel, o traço de sua boca era fino, sua expressão era delicada como a de um anjo, um milagre como a Senhora Bennington aparentemente via. As mãos de Nicholas era brancas como a neve assim como todo a sua pele, seus dedos era finos, Lucilly estava curiosa para o ver tocar seu violino, mas seria algo perigoso, sem volta, talvez seu coração não agüentasse o som melódico da musica do rapaz, mesmo assim ela ansiava por ouvi-lo.
- Nicholas, pode tocar para nós esta noite? – Úrsula Bennington parecia ter ouvido as preces de Lucilly.
- É claro Senhora Bennington. – Nicholas parecia pela primeira vez tímido e o Lucilly achou adorável.
- Estou ansiosa por ouvi-lo, não conheço absolutamente nada de musica então ficarei facilmente impressionada. Acredito que o Senhor seja muito talentoso.
- Nicholas por favor.- Ele estava ruborizado.

O jantar terminou silencioso, todas as crianças sentaram no chão ansiosos pelo concerto particular de Nicholas Henryk. Lucilly tentou manter-se seria e desinteressada. Ela se sentia diferente de quando estava com Leon, parecia que a relação deles era algo necessário para sobreviver ao lado de Eleonora, longe daquele casarão Lucilly se sentia livre para amar outra pessoa, uma pessoa desconhecida, ela se sentia pronta para aventurar-se em uma relação saudável e conhecer aos poucos o homem que estava a sua frente, um violinista que morava na cidade. O interesse parecia mutuo, mas Lucilly espantou-se ao ver uma fina aliança no dedo de Nicholas, seu mundo pareceu cair, o céu tocaria o chão, seria ele casado? Lucilly não teria coragem de se envolver com alguém que amava outra pessoa, parecia ser por isso que Nicholas agora não a encarava, ele devia manter-se fiel por sua mulher em casa.

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