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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Parte Seis - O Orfanato

Noah partira, e Lucilly esperava corajosamente pelas conseqüência de seus atos, como em uma visão ela viu os guardas do clero a pegarem pelos braços e a jogarem no chão como uma mulher qualquer.
- vagabunda, devia saber que uma jovem que esconde um desertor em seu quarto não passa de uma vagabunda qualquer. - Dizia o guarda.
Lucilly não derramou uma lágrima.
- fiz o que uma boa cristã faria. - o guarda lhe deu um tapa.
- ficará nessa casa imunda até o fim da guerra. Trabalhar e morar aqui será sua punição, o Excelentíssimo Bispo não ficará contente ao saber que perdemos Verch - sentenciou o Padre.
Lucilly tomou as mãos do Padre e tocou-lhe com os lábios.
- Como o senhor desejar.
- Não o toque! - um dos guardas empurrara Lucilly para longe de Erik Hellige, o Padre pareceu sorrir, algo naquela situação o agradava.
Erik caminhou até a porta e entregou um pequeno saco de veludo preto nas mãos da senhora que cuidava do orfanato.
- Pela agradável estadia. - o Padre murmurou ironicamente com um malicioso sorriso no canto da boca.
Após os guardas passarem pela porta, a senhora desabou em sua cadeira de balanço e começou a chorar.
- Eles se foram enfim... meu coração voltou a bater - a senhora suspirou - não nos apresentamos meu bem, mas devido as circunstancias, vejo que ficara mais tempo do que imaginamos, me chamo Úrsula Bennington.
Lucilly sorriu, caminhou até onde a senhora estava e lhe apertou a mão.
- Sophia... Sophia Brühl.
Devido as futuras circunstâncias, Lucilly não seria mais Lucilly para suas novas relações sociais, agora ela seria Sophia. Ela fugiria em breve, e pretendia manter o padre e sua guarda longe. Ela deveria manter o nome de sua família limpo, não poderia manchar a honra de Leon, ela não carregaria tanta culpa em sua consciência.

Lucilly finalmente deitou-se em sua cama, após cuidar das crianças. Seus pensamentos intercalavam entre as faces de Noah e Leon, ela se sentia confusa, era nova e inexperiente para entender tudo que se passava por sua mente e queimava em seu coração. Ela desejava viver cada momento de sua vida, mas sentia que isso não seria possível em tempos de guerra, esse sentimento surgiu dentro dela a partir do momento em que a tiraram de casa, ela notara o quanto estivera presa em seu casarão, ficar junto de Leon não era ruim, mas havia muitas coisas para se ver fora da Vila, mesmo sendo coisas ruins, por um lado a guerra iria ajudá-la a crescer, se tornar uma mulher independente, era apenas nisso que Lucilly conseguia pensar agora, seu corpo mudava, e sua cabeça deveria acompanhar o processo, a evolução. Lucilly iria sugar tudo o que a guerra poderia lhe ensinar.

O orfanato era estranhamente silencioso, as pobres crianças temiam pelo perigo constante, a guerra lhes ensinara a ser pacientes e fazer apenas o necessário para viver, Beber, comer e dormir. As crianças não brincavam e Lucilly prometeu a si mesma que assim que a neve derretesse ela iria levá-las para fora, ou melhor, levaria eles para fazer uma guerra na neve, coincidia com os tempos de trevas.

Logo ao crepúsculo da manhã, sob a luz mágica Lucilly puxou as crianças para fora do casebre de madeira. Eram apenas onze crianças as outras haviam falecido por doenças que a neve e a guerra trouxera, um infortúnio. Mas Úrsula precisava seguir em frente e cuidar das novas crianças que surgiam a beira da estrada, muitas vezes feridas. A felicidade que transparecia por de trás dos olhos daquelas crianças não apenas contagiaram Lucilly mas como a Senhora Bennington, elas decidiram então viver esse mesmo momento a cada manhã cinzenta, como um remédio para a esperança antes frágil em seus corações.

- Nicholas! - Lucilly ouviu a Senhora Bennington gritar no décimo dia em que brincavam na neve. Ela fez algo incomum, correu de encontro a um belo jovem e de braços abertos, como se ele fosse um milagre. - Nicholas! - e ela o abraçava fortemente.

Após alguns segundos e muitas lagrimas, a Senhora Bennington trouxe o jovem rapaz para perto de Lucilly que se encontrava sentada em uma rocha próximo a casa observando as crianças se sujarem na neve misturada com lama.
- Joseph! não ponha a mão suja de lama na boca! - Lucilly avisou.
- Sophia meu bem, desejo que conheça esse rapaz, que iluminou nosso dia aparecendo aqui, uma surpresa maravilhosa! este é Nicholas Henryk.
- Prazer, Sophia Brühl.
O rapaz lhe estendeu a mão mas ele parecia hipnotizado, Lucilly não entendia sua expressão mas a presença do rapaz lhe agradava, as crianças pareciam o conhecer e o saudavam.
- Nicholas cresceu nesse orfanato, partiu para trabalhar e me envia cartas freqüentemente, sempre avisa quando vem me visitar, me sinto tão alegre, você irá gostar dele, é um bom rapaz, me ajuda com as crianças e as despesas. Ele é como um filho para mim.

Úrsula não escondia seus sentimentos e sua adoração pelo belo e jovem rapaz, Lucilly se sentiu contagiada pela súbita felicidade que pairava no ar, ela via tantos sorrisos que era impossível esconder o seu, Nicholas brincava com as crianças mesmo suas malas estando jogadas na neve enlameada, então Lucilly as pegou e levou para o quarto mais vazio, o convidado dormiria no chão provavelmente. Uma das malas Lucilly notou ser a capa de um instrumento, curiosa ela a abriu e encontrou um violino quase novo, ele era um musico? que fantástico pensou, nunca conhecera alguém com talentos artísticos. Sua mãe escutava raramente o radio, mas ela apreciava o som que ouvia quando comparecia em festas onde se apresentavam pequenas orquestras que tocavam para as elegantes famílias que moravam nos casarões. Ele tocaria para ela, Lucilly o faria tocar.

Durante o humilde jantar que a Senhora Bennington conseguira preparar para o adorável convidado, Lucilly agora se sentia hipnotizada, ele não olhava para ela, encarava a comida e sorria vez ou outra de alguma brincadeira de Joseph, a criança mais humorada do orfanato.
- Nicholas sinto muito... não estava preparada para sua visita. – Úrsula se lamentou.
- Está perfeito, eu juro. – Ele lançou um breve olhar para Lucilly que se sentiu nervosa e desviou os olhos.

Nicholas era certamente muito belo e encantador, aparentava ter pouco mais de vinte anos, seus cabelos era compridos até os ombros e castanho claros, preso em um delicado rabo de cavalo, seus olhos eram cor de mel, o traço de sua boca era fino, sua expressão era delicada como a de um anjo, um milagre como a Senhora Bennington aparentemente via. As mãos de Nicholas era brancas como a neve assim como todo a sua pele, seus dedos era finos, Lucilly estava curiosa para o ver tocar seu violino, mas seria algo perigoso, sem volta, talvez seu coração não agüentasse o som melódico da musica do rapaz, mesmo assim ela ansiava por ouvi-lo.
- Nicholas, pode tocar para nós esta noite? – Úrsula Bennington parecia ter ouvido as preces de Lucilly.
- É claro Senhora Bennington. – Nicholas parecia pela primeira vez tímido e o Lucilly achou adorável.
- Estou ansiosa por ouvi-lo, não conheço absolutamente nada de musica então ficarei facilmente impressionada. Acredito que o Senhor seja muito talentoso.
- Nicholas por favor.- Ele estava ruborizado.

O jantar terminou silencioso, todas as crianças sentaram no chão ansiosos pelo concerto particular de Nicholas Henryk. Lucilly tentou manter-se seria e desinteressada. Ela se sentia diferente de quando estava com Leon, parecia que a relação deles era algo necessário para sobreviver ao lado de Eleonora, longe daquele casarão Lucilly se sentia livre para amar outra pessoa, uma pessoa desconhecida, ela se sentia pronta para aventurar-se em uma relação saudável e conhecer aos poucos o homem que estava a sua frente, um violinista que morava na cidade. O interesse parecia mutuo, mas Lucilly espantou-se ao ver uma fina aliança no dedo de Nicholas, seu mundo pareceu cair, o céu tocaria o chão, seria ele casado? Lucilly não teria coragem de se envolver com alguém que amava outra pessoa, parecia ser por isso que Nicholas agora não a encarava, ele devia manter-se fiel por sua mulher em casa.
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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Parte Cinco - As Leis da Igreja

Após três dias Noah acordara de seu coma, sua ferida agora começava a cicatrizar. Ele estava só em um imenso quarto, as janelas se encontravam fechadas, Noah tinha uma remota lembrança de onde estava e apenas uma imagem se fixara em sua cabeça como em um agradavel sonho, uma imagem constante de uma bela jovem de quem ele o nome nem saberia pronunciar. Levantou-se lentamente sentindo-se zonzo e abriu as janelas para respirar melhor. Sentiu alguem tocar lhe os ombros, seria o anjo que lhe salvara?
- Verch? me acompanhe.
Noah virou-se para encontrar a face do dono das mãos pesadas que lhe tocavam. Era o Padre de que todos temiam, que viajava por todas as vilas e aldeias atras de desertores ao comando do Bispo Frederik Estridsen, ele o encontrara, e seu anjo seria acusada junto por ter lhe oferecido abrigo, onde ela estava?
- o acompanharei, Excelentíssimo, mas antes preciso saber se a bela jovem dona deste quarto se encontra bem.
Havia homens fardados atrás do Padre Erik Hellige que tentava manter-se sério mas em seus olhos brilhavam as chamas da vitoria, a força que lhe envadia quando sabia que estava cumprindo as leis da igreja, ele se sentia orgulhoso de seu cargo e feliz por ter espiões tão leais, a ponto de denunciar familias da alta sociedade como os Lewinsky, ele devia muito a todos os doutores famintos por terras e o grandioso capital da igreja. Não havia escapatoria, Noah repetia a si mesmo que se esforçaria o maximo para se manter vivo por ela, por seu anjo.
- deve entender que causou um grande mal a vida da jovem Lucilly ao lhe pedir ajuda, deveria saber que nada escapa o Excelentissimo Bispo Frederik Estridsen, que está a sua espera pronto para lhe punir. Apesar de termos hérois como nosso grandioso Furriel, a escoria que foge de nossos campos de batalha é de se admirar, todos covardes, nunca esperei muito de você soldado Verch, como não esperei de seu desonroso pai, temos uma patria a defender, não apenas nossas peles. Levem-no.

Não adiantaria tentar fugir. Erik Hellige, Noah conhecia bem aquele nome, o jovem Padre que possuia quase a sua idade, que perseguia e matava quase todos os desertores, ele possuia espiões em todos os lugares, em todas as familias, ninguem negaria o ajudar, por medo e por honra.

Ao sairem do casarão Noah a viu, bela e triste sendo carregada por um dos homens fardados em um cavalo. Ela parecia chorar, mas Noah nunca teria certeza, ela esticou a mão para ele mas o cavalo em que estava agora disparava. Um capuz negro agora cobria a cabeça de Noah, assim como suas mãos estavam presas por um corda. Doi homens pegaram Noah pelos braços e o atacarom no fundo de uma carroça velha, junto a aves mortas, o fedor era intenso e seu estomago se retorcia de ansia. Sua cabeça batia agora constantemente na madeira da carroça devido as tortuosas estradas de terra. O que aconteceria a Lucilly? ele desejava ensandecido que ninguem a tocasse, que ninguem a corrompesse. Ele iria atras dela, descobriria para onde a levaram e fugiria com ela. Ela o amaria com o tempo, ele não forçaria nada, apenas desejava sentir seu calor, e admirar seus olhos, tocar seus cabelos, e quem sabe um dia ela retribuiria também todo o carinho, caso ela não o odiasse por ter a colocado naquela situaçao. Noah decidiu que vingaria o sofrimento da jovem Lucilly, o seu proprio e de seu pai. Seu pai que não saia da cama desde a ultima grande guerra. Ele se vingaria de Erik, o padre maldito.

Lucilly se sentia violentada e machucada, suas maos agora presas por a de um homem duas vezes maior que ela doiam. Sua lagrimas secaram devido a nevasca que agora caia. Eles parariam em um casebre qualquer a beira da estrada, ela queria fugir. Após torturos minutos cavalgando junto ao imenso homem um casebre atravessou o caminho do Padre e de sua guarda, a pequena e velha porta começa a ser encoberta pela neve. O homem que a carregava a pegou no colo e a levou até o silencioso lugar.

O casabre não estava vazio, Lucilly notou tristemente que se tratava de um orfanato, milhares de crianças pequenas se agrupavam perto de uma lareira, uma senhora coberta por uma manta levantava de sua cadeira de balanço e caminhava até o Padre. Ela parecia assustada, suas maos tremiam compulsivamente.
- A que devo sua visita Excelentíssimo? - ela parecia terrivelmente insegura.
- A senhora nos deve abrigo durante essa forte nevasca. - O Bisco era grosseiro e seco.
- Mas e as crianças onde vão dormir Padre? - Lucilly quase gritou mas contivera suas palavras. O homem que a segurava lhe deu um tapa no rosto.
- Nunca se dirija ao Excelentissimo senhor apenas de Padre. - O gigantesco homem esbravejou. Erik levantou a mão para o guarda sem o olhar, na intenção de o calar.
- As crianças dormirão bem no chão proximo a lareira. - a senhora forçou um sorriso, há algumas camas disponiveis nos quartos dos fundos, sinto lhe dizer que deverao dividir os quartos, possuo apenas dois.
- Meus servos dormiram bem no que lhes servir. - Sem olhar novamente para a senhora o Padre se encaminhou para o quarto visivel no fim do corredor e se trancou.

A senhora voltou para sua cadeira de balanço, podia se ver o sofrimento nos olhos de cada criança presente naquele espaço, todas encaravam Lucilly. O homem que cuidava dela a pegou pelo braço e a levou para o outro quarto vazio, mandou a deitar no chão, encima de um tapete.
- onde está o soldado? - Lucilly se atreveu a perguntar.
- Noah Verch? o desertor? - o homem cuspiu ao dizer.
- Noah... sim ele, onde se encontra nessa forte nevasca?
- no mesmo lugar onde veio, na carroça junto a nossas aves e lá irá ficar, não seria um grande problema se ele morresse agora, o Excelentissimo Bispo nos perdoaria, um a menos, soube que ele não gosta de sujar as mãos.
Lucilly cuspiu diretamente nos olhos do homem, que lhe esbofeteou como castigo.
- vá dormir com aquelas crianças sebosas e inmundas, saia imediatamente daqui, e lhe aviso... se fugir será sua morte, a encontrarei onde estiver.

Lucilly se sentiu aliviada e correu até onde se encontravam as crianças. A senhora parecia dormir, Lucilly caminhou lentamente até a porta e a abriu, correu pela nevasca a procura da tal carroça das aves. Depois de alguns minutos procurando cegamente a encontrou, coberta por um manto. Ela teve que prender a respiraçao, o cheiro era fortissimo, cutucou com o indicador o unico corpo que se encontrava ali, todo encolhido e sujo de sangue.
- Noah! Noah Verch! - Lucilly tentou gritar mas o ar gelado lhe queimou a garganta.
- Lucilly? - Noah fraco tentou levantar-se, Lucilly tirou-lhe o capuz do rosto, ele estava abatido, seu ferimento ainda estava em processo de cicatrizaçao, ela temia por sua vida. - Lucilly vá embora.
- não posso, sinto que é meu dever lhe proteger! - Lucilly arrancava desesperadamente a corda que prendia as mãos de Noah.
- Lucilly fuja! lhe peço! lhe imploro! não deixem que a toquem, mantenhasse pura, fuja! - Noah pulou da carroça e empurrava Lucilly para a lateral do casebre. Havia um pouco de água proxima a carroça e ele usou aquela agua suja para limpar um pouco o rosto, suas roupas estavam piores, sujas de sangue, o capuz havia lhe livrado do sangue e das penas no rosto. Lucilly secou o rosto de Noah com as mangas de seu vestido branco agora encardido. Noah a tomou nos braços, lhe beijou a face fria pelo vento, Lucilly fechou os olhos e pensou em Leon.
- Noah... corra, fuja e procure Leon. Leon! você sabera quem ele é no momento em que o ver! - Lucilly se afastou de Noah e começou a se encaminhar em direçao da porta do casebre.
- Leon? Lucilly volte! fuja comigo! - Noah foi até ela e lhe beijou os labios fervorasamente. - fique comigo, lhe imploro!
- Leon... procure por Leon ele está em Zervinsk, lembre-se do meu rosto! - após sentenciar correu para dentro do casebre.

Noah atordoado observou a porta que se fechava. Leon? ele não conhecia ninguém com esse nome, Zervinsk era longe da li, a cidade congelante, todos que partiam para lá perdiam o coraçao, mas o seu estaria seguro com Lucilly, se sentia extremamente grato por ela não o odiar por tudo que fez em tao pouco tempo. Montou um dos cavalos da guarda do Bispo Frederik e partiu rumo a Zervinsk. Ele encontraria Leon, seja ele quem for, acreditava que ele a levaria de volta a Lucilly, e os dois fugiriam para algum lugar longe dali.

Lucilly respirou fundo ao entrar no casebre e caminhou até a lareira, muita das crianças dormiam no chão outras apenas estavam sentadas olhando pela janela, agora escura pela noite. Lucilly gostaria de ver a Lua, mas não ousaria levantar-se, em algum momento os guardas levantariam e viriam até ela, desejava fortemente que o motivo fosse apenas para dormir com eles, e não para a punir pela fulga de Noah. Lucilly manteria-se alerta pelo resto da noite.
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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Parte Quatro - Atormentado

Noah Verch fugia da guerra. Um desertor, um soldado qualquer, inmundo, ferido no braço, se arrastando, desejando uma cama, sonhando com alguem que o protegesse do exercito do qual fugira. Era dia e Noah esgueirava-se pelas sombras, queria se livrar daquele uniforme, estava longe da cidade, mas por aqueles casarões deveriam morar senhores da alta sociedade, ex-militares que adorariam o ver na forca. Foi nesse momento de fuga que ele a viu, debruçada sobre uma grande janela, os cabelos loiros esparramados pela neve acumulada no parapeito, ela parecia desejar o chão, cada instante se colocava mais a frente, ela parecia estar ali para encantar os meros mortais com sua beleza, um ser como aquele não morreria ao tocar o chão, flutuaria antes de o encontrar, ele agora a chamava com os olhos vidrados.
- Senhorita! - Noah desesperado notou que a jovem desaparecera após ouvir sua voz.

Lucilly se encontrava embaixo da janela. Seus joelhos fizeram barulho ao tocarem o chão, seu vestido branco lhe protegeu de uma possivel ferida. Ele a pegara em um momento de tristeza profunda, ele a interrompeu talvez por bem, o que seria dela se tivesse feito o que planejava? Aquele rapaz...Parecia estar de uniforme, será ele algum amigo de Leon que viera lhe entregar alguma mensagem? Lucilly levantou-se e procurou o rapaz de uniforme mas ele não se encontrava.
- olá? - Lucilly escutou a mesma voz a chamar, mas não encontrava o dono.
- sim? - Ela começou a ficar ansiosa, por que o rapaz insistia em se esconder? Havia algo de errado?
- Senhorita, me perdoe... não deveria estar aqui.
- Um desertor? - Lucilly suspirou, nenhuma mensagem de Leon - Não desejo lhe falar.
- Permita-me! - Noah caminhou em direção ao sol, se colocou em lugar onde Lucilly podia o ver. Ela o achou charmoso apesar de toda a sujeira que cobria seu rosto, havia largas manchas roxas debaixo de seus olhos. Lucilly sentiu pena, imaginava que aquele poderia ser Leon pedindo ajuda a outra pessoa, ela ficaria triste se negassem a ele um pedido, apenas por isso permetiu o rapaz de falar.
- prossiga.
- Estou a dias caminhando, meu front era distante daqui, sinto se a decepciono por não estar lutando por meu país, não a defendendo bela senhorita, não sei lutar, não nasci para segurar uma espada, uma arma... posso descansar por apenas um dia em sua grande casa? eu durmo em qualquer canto, a dias descanso no chão.

Lucilly não podia negar, precisava pensar em Leon, poderia ser ele em algum canto desesperado por um abrigo, então em silêncio ela desceu as escadas do casarão, Eleonora desmaiara em seu quarto após uma noite de comemoração com seu amante, e diversas taças de vinho. Noah se encaminhou até a porta onde a jovem se encontrava, pálida e majestosa, o vestido branco caia suave sobre sua pele, os cabelos loiros compridos caiam em cascata sobre suas costas, os labios tão vermelhos se destacavam mais do que os belos olhos amendoados, uma cor rara no meio de tantos olhos azuis, ela era bela demais para existir, Noah duvidou de seu bom senso, ele deveria ter surtado, perdido o juizo, os extensos dias de caminhada, sem agua sem comida definitivamente prejudicara sua mente, sua visão.

Noah e Lucilly subiram as escadas sem pronunciar palavra alguma. Lucilly o deixaria descansar em seu quarto, Eleonora não deveria saber, ela contaria a todos na cidade sobre o rapaz e o exercito viria o pegar. Ele parecia deslumbrado com a casa, ou com ela, Lucilly não saberia dizer. Algo parecia errado com ele, seus olhos estavam opacos, ele deveria estar com fome, Lucilly decidiu que tomaria conta dele até o brilho natural de seus olhos voltarem. Noah tombou assim que entrou no quarto.

Lucilly tentou o acordar, e Noah muito fraco e quase inconsciente levantou-se e foi arrastando-se até a cama, por fim desmaiou. Lucilly buscou lenços e uma bacia com água, tentou ser silenciosa ao descer e subir as escadas, Eleonora estava no quarto proximo ao seu, então sentou-se ao lado do jovem rapaz e começou a limpar seu rosto, havia beleza em seus traços, ela tentou imaginar sua historia, e seus verdadeiros motivos por estar fugindo, alisou seus cabelos e lhe beijou a testa, temia que com aquele ato não o estivesse beijando e sim a Leon. Ele estaria bem debaixo dessa neve? enfrentano tantos perigos? ela deseja sentir o coração dele batendo proximo ao dela, implorara a algum ser supremo que permetisse que o coração dele continuasse a bater e voltasse intacto para ela, o coração de seu amado irmão.

Noah começou a transpirar e a tremer compulsivamente, Lucilly se assustou, não sabia o que fazer, notou que o rapaz ardia em febre, agora temia que ele pudesse falecer em sua cama, onde tanto sonhara com Leon, onde tanto sonhava com a vida fora daquela vila. Ela colocou um dos lenços na testa do rapaz e começou a fazer a unica coisa possivel naquela situação, juntou suas mãos as dele e orou.

Noah suspirava nomes desconhecidos a ela e se contorcia de dor, o ferimento em seu braço parecia ser a causa do sofrimento, Lucilly se sentia sufocada, não podia fazer nada pelo rapaz em sua cama caminhava de um lado para o outro, enfim decidiu correr até a casa do medico de sua familia, felizmente era proxima a dela, o que diria quando chegasse lá? Ela não podia esperar nem mais um instante, o rapaz estava preso a sua cama e ela precisava agir. Correu, correu como nunca fizera na vida, tropeçou pela falta de costume, ralou a mão no chão de areia, mas decidida continuou. O caminho parecia mais longo do que de costume, estava ofegante ao chegar no casarão do Doutor, seu vestido ficou manchado nas bordas graças ao tropeço, e tentando recuperar o folegou ela gritou por ele.
- Doutor, preciso de ajuda! Doutor, alguém? lhe imploro que me atenda! - Lucilly gritava ao mesmo tempo que batia a porta.
Uma senhora de idade apareceu, vestindo um longo vestido preto e um avental branco.
- O Doutor não se encontra. - disse a senhora.
- eu preciso de ajuda! há um homem ferido em minha casa!
- Creio que posso ajuda-la... trata-se de um soldado Senhorita Lewinsky?
- como sabes? - Lucilly prendeu a respiração, ela sentiu uma ardencia nas maçãs do rosto, a corrida fizera seu sangue correr forte pelas veias e estourar em sua face.
- tempos de guerra, não é diferente de quando ainda era jovem e uma grande guerra como essa também explodira, cuidei de varios soldados caidos na beira das estradas de areia, suplicando por ajuda e por proteção, ninguém respeita desertores.
- venha comigo senhora! lhe peço! - Lucilly tomou suas mãos nas dela, precisava da ajuda e do sigilo daquela mulher.
- deixe me pegar alguns medicamentos.

Com a ajuda da velha senhora, Lucilly cuidou de Noah, seu ferimento agora estava escondido por debaixo de algumas ataduras, ele deixara de se contorcer, a morfina fizera efeito, Lucilly sentiu-se grata por isso e à mulher que muito sincera jurou manter segredo e partiu do casarão. A cama era grande o suficiente para os dois, Eleonora não bateu em sua porta durante o restante do dia, era um bom sinal, então ela trancou a porta e viu o sol cair por detras das montanhas, a lua surgiria em breve mas decidiu deitar-se antes de ve-la. Lucilly caminhou para a ponta da cama, ela se deitaria ao lado de um estranho, um desertor, ela poderia ficar na outra ponta longe dele, mas decidiu aproximar-se e alisar lhe os cabelos, admirando seu rosto novamente, os belos traços do rapaz que gritara por ajuda em sua janela. Lucilly agora desejava saber seu nome...Que nome combinaria com sua face? Ele parecia tão jovem. Após tanto ponderar, entregou-se aos devaneios e a inconsciencia, deslisando suavemente para o mundo dos sonhos, onde um novo rosto se unira ao de Leon.
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Leon vestia seu uniforme, de tecido grosso e desconfortavel com botões dourados. A neve cobria o chão por completo, e os soldados de baixo escalão - os miseraveis sem capital - tremiam constantemente, vestidos em uniformes de tecidos finos e calçando botas usadas. O Status de Leon permetiu que ele tivesse um bom cavalo, um bom posto na hierarquia, um Furriel, pronto para liderar a Cavalaria e os soldados a seu lado, seus pés não sentiriam o gelo que queimava os pés de Dean Cartwright, um jovem desajeitado, deslumbrado pela oportunidade de lutar. Dean estava ali pelo mesmo motivo de Leon, mas ele ao contrario, não tinha nada a perder, desejava ver o sangue dos adversarios penetrando na neve por culpa de um golpe seu. O sangue dele borbulhava de agitação, toda aquela correria parecia divertida e correta atraves de seus olhos, tanto que não importava que seus pés estivessem frios e dormentes pela neve. Dean sonhava com as historias que escutara, de garotas a beira da estrada esperando pelos soldados, para os ajudarem a esquecer dos longos dias de batalhas, oferecendo uma cama quente para se deitarem com elas. Ele entendia agora como seria excitante estar naquele mundo, sua vida era tão reclusa e tediante, mais do que nunca ansiava o confronto, e ele mais do que todos, derramaria o sangue inimigo.

Leon montou seu cavalo e parou próximo ao soldado desajeitado, com olhos injetados, segurando perigosamente uma arma de cano longo, ele notara como aquele rapaz tão jovem e inquieto amava aquele ambiente frio e opressivo, ele parecia o unico disposto a lutar, Leon podia jurar que mesmo apenas com aquele soldado eles poderiam vencer a batalha.
- Realmente deseja estar aqui, não? - Perguntou Leon a Dean.
- Sim, Senhor! - Dean empertigou-se ao dizer.
- existe alguem o esperando em casa? - Leon gostaria de se inspirar naquele soldado, aparentemente forte e disposto a não morrer. Ele sentia as vibrações que Dean passava, tão positivo, tão ensandecido e disposto a lutar.
- Não, Senhor! - seu semblante permanecia o mesmo.
- Sinto muito Soldado. - Leon baixou a cabeça e fechou os olhos como para esquecer da imagem que lhe aparecia na mente, dentro de seus olhos, tremulando em seu peito, queimando lhe as narinas, ele agora sentia o perfume de Lucilly empestiar o ar frio, ele se perguntava se Dean era capaz de sentir também.
- Com sua permissão Furriel Lewinsky... O senhor anseia voltar para casa disposto a encontrar uma bela jovem a sua espera? - Dean não encarava Leon, fitava um ponto cego a sua frente.
- Soldado Cartwright temo lhe dizer que sim, anseio a encontrar bem. A bela jovem é minha irmã, sempre a protegi, mas agora não há ninguem que cuide dela. - disse pesaroso.
- Sinto muito, Senhor Furriel.

Leon encarou por um breve momento aquele rapaz, se esforçaria para absorver suas vibrações assassinas. Sentiu o gosto metalico de sangue em sua boca, seus labios estavam rachados graças ao frio. Leon fechou os olhos mais uma vez na tentativa de espantar Lucilly de perto dele, "Concentre-se" disse ele para si " não posso morrer agora". Leon tinha esperança, seu amor lhe daria forças para passar por aquela batalha, ele seria o reflexo de Dean Cartwright, o soldado desamparado, largado pela familia que agora corria em direção ao campo de batalha. Leon cavalgava a seu lado, armado com uma pesada espada virgem de guerra.

E assim ele viu, Dean disparar o primeiro tiro, recarregar, atirar novamente, largar sua arma e empunhar a espada, seu rosto foi coberto de sangue. Leon parara atrás dele, seus olhos se arregalaram ao ver o sangue jorrar na neve, seu estomago doia, sua garganta ardia, aquele não era seu lugar, mas ele lutaria assim como Dean, ele encontraria a selvageria dentro de si. Um segundo apenas, ele viu os olhos dela brilhando na reluzente espada ainda virgem, um homem se aproximava sujo e grotesco, respirando o perfume dela ele cravou a espada no coração do homem, do inimigo. Seu coração palpitava selvagem sobre a pele branca e gelada. Ele encontrara o monstro dentro de si, algo dentro dele rompeu, a beleza do mundo desvaneceu-se com o ultimo suspiro do inimigo. Leon apenas via sombras e sangue sendo sugado pela neve, transformando a em um belo e sinistro campo de rosas. O perfume de Lucilly se fora, ele se sentia só e incrivelmente forte.

Mortes se seguiram e ele destruira cada ser vivo que se aproximara de seu cavalo, seu rosto estava coberto de sangue, suas mãos lançavam-se brutalmente contra os corpos a sua frente, sua espada já não reluzia e ele desejava mais, cada morte o fortalecia, a sensação o surpreendeu, não era como ele imaginava. Seus olhos ensandecidos brilhavam pela vitória, ele sobrevivera, ele dilacerara cada corpo que se aproximara dele, cada alma viva que tentou lhe tirar desse mundo sujo cheio de sombras. Ele ergueu a espada e trovejou palavras incompreensiveis e todos ao seu redor o seguiram, entoando aquela quase canção de vitoria sobre os corpos dilacerados, sobre as vidas perdidas, pelo ego de um estado contraditorio, mas Leon não pensava nisso, em sua mente um mar de sangue inundava cada pensamento bom, ele deixara de ser puro.
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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Parte Dois - Lucilly

Por que? por que Leon? havia tantos homens na cidade, todos certamente preparados para uma batalha, verdadeiros soldados, mas Leon não era como eles, Leon era diferente, intocado, era seu. Lucilly chorava, suas lagrimas cristalinas encharcavam o delicado travesseiro bordado com seu nome. Tudo naquele quarto a lembrava dele, a vida agora em diante seria extremamente ridicula e sem sentido, não haveria ninguem para faze-la rir e Eleonora ajudaria as coisas a ficarem piores.
Lucilly se sentia tão quente, sua pele ardia em febre, decidiu levantar-se e ir até a janela. Admirou a neve que encobria a parte visivel da cidade, tudo estava tão escuro a nao ser pelo brilho prateado da lua sobre a neve, deixando aquele dia, aquela ultima noite, inesquecivel, terrivelmente memoravel. tudo deveria ser diferente ela pensava, Lucilly nunca revelara seus estranhos e preciosos sentimentos a seu irmão, considerava Eleonora a responsavel por ser necessario criar esses sentimentos dentro dela por pura sobrevivencia, Leon era como seu pai, seu melhor amigo e seu unico amante, apesar de nunca ter dito nada , ele era a pessoa mais importante de sua vida e diante daquela janela, com o parapeito coberto de neve, ela jurou para a Lua, solitaria no ceu negro, que se Leon morresse ela morreria também.

E embaixo da grande janela ela desfaleceu, Lucilly estava tão fraca que nem sentiu o frio que vinha do chão para a adoecer, sua pele estava dormente pela tristeza, seria melhor nunca acordar, havia odio circulando em suas veias, destruindo em silencio sua inocencia que Leon tanto tentou proteger. O sol começava a nascer, frio e reluzente, destruindo por fim os ultimos momentos de Leon naquela casa. Ele fez a passos longos o caminho em direção as grandes portas do quarto de Lucilly e para seu espanto encontrou ela caida no chão, embaixo da janela, palida, onde estava as rosas de sua pele? aquelas doces manchas roseadas que pintavam suas maçãs do rosto? Leon correu até seu corpo e o tomou no colo, seu coração disparou ao sentir a pele nunca antes fria de sua irmã, ele temia pelo pior, ao deita-la na cama colocou sua cabeça sobre o peito da jovem e sentiu fraco e doce o batimento do coração dela, Lucilly estava viva! Aflito ele a cobriu e lhe beijou a testa, segurou a mão que estava para fora da coberta e a admirou. Leon queria tanto que ela abrisse os olhos, seus minutos estavam contados, seus musculos estavam enrijecidos pela tensão e pela noite ruim de sono, ele mal dormira, tivera inumeros pesadelos e em todos eles estavam presentes ela, Lucilly, delicada como uma flor, pura como um anjo, tão bela e encantadora quanto Afrodite, a deusa do amor e da beleza. Esses pesadelos estavam o deixando cada vez mais psicotico, e cada vez mais desesperado por abandonar aquela casa. Ele não podia partir. Ela era o unico ser em que ele acreditava, que ele amava, que ele desejava, Leon a vira crescer, e se modificar, a ingenuidade continuava a mesma, mas algo nela mudara e aquilo o atraia, o enlouquecia, havia algo errado naquilo, ela era sua irmã, mas ele nunca a vira dessa maneira, Eleonora nunca permitiu, por culpa dela os dois necessitavam um do outro para sobreviver, para se apoiar, a falta do pai impedia ele de liberar Lucilly para o mundo, então ele a deixou ali, protegida por tanto tempo em seu quarto, naquela casa. Ele não sabia como a proteger, aquela parecia a unica solução. Eleonora estava sempre embriagada por aí com aquele homem horrendo que chamava de amante, o mundo era cruel, ele era novo demais, não sabia como criar uma menina, então entre os dois nasceu essa estranha relação para suprir a falta de tanto amor. Ele não a via como irmã, e acreditava que ela não o via dessa maneira também, ele nunca a tocara e nunca a tocaria... sabia que era errado, sabia.

Lucilly parecia despertar lentamente, seus olhos estavam escuros, nebulosos, incompreensiveis, será que ela batera a cabeça? Leon apreensivo se aproximou de seu rosto.
- Lucilly, minha querida, você está bem?
Lucilly encarou o rosto de Leon e desviou os olhos.
- Por que está aqui ainda? para me fazer sofrer mais do que já sofro? para eu lhe ver partir e você se aproveitar de minhas lagrimas para se sentir mais homem?
Leon se sentiu ofendido e extremamente espantado com aquela recusa em seus olhos, com aquelas palavras grosseiras que pareciam incapazes de sair da boca de Lucilly, ela com certeza batera a cabeça com força.
- Lucilly? você sabe o quanto é importante pra mim. Prefiro dar todo meu dinheiro a Eleonora do que lhe deixar sozinha nesta casa, nessa cidade, a levaria comigo se pudesse, estou partindo por obrigação e para sua proteção, não posso fugir, não posso mentir, tenho de ir!
Lucilly estava seca, nenhuma lagrima, e aquilo lhe partia o coração, Leon sentiu sua mão soltar a de Lucilly, ele teria de partir sabendo que não encontraria mais o amor da irmã quando voltasse, tudo estava arruinado. Ele se levantou e caminhou lentamente e arrastando as botas até a porta, quando sentiu delicados braços tocarem sua cintura, nem ouvira os passos, Lucilly parecia uma fada. Ele se virou e a encontrou um pouco mais corada, descalça, olhando profundamente em seus olhos.
- Eu amo você. - Lucilly colocou peso em cada palavra.
- Eu...sinto o mesmo. - Leon estava chocado.

Leon se aproximou do pequeno corpo de Lucilly, inclinou a cabeça sobre a dela e a sentiu arfar, sua respiração quente uniu-se a dela, os labios rosados proximos um do outro, aquele momento que ele mesmo vira em seu pesadelo estava prestes a acontecer, sua mente estava vazia, nebulosa e seus olhos se fecharam lentamente assim como os dela. A mão que cobria sua cintura lhe apertou forte, e ele colocou as proprias mãos na cintura dela, sentiu seu corpo fragil na palma da mão, o tecido fino roçar contra sua pele, a forma de menina se confundia com a mulher, ele desejava sua inocencia e se culpava por isso. Lucilly encostou de leve os labios no dele.
- O que é isso? Vocês querem que a desgraça desabe sobre o teto dessa casa por completo? Vocês! pecando em minha casa? atraindo coisas ruins para nossas vidas, destruindo nossa reputação! vocês enlouqueceram e querem me levar para o inferno junto? Isso é Pecado!
Lucilly passou a mão na boca e correu para a cama, Leon olhava atordoado para Eleonora que agora corria para a cama de Lucilly e lhe estapeava.
- Sua garota inmunda!
Leon caminhou lentamente até onde as duas se encontravam. Eleonora agora arrancava tufos loiros do cabelo de Lucilly. Ele puxou delicadamente Eleonora pelo braço e caminhou com a ensandecida mulher para fora do quarto. Ela gritava loucamente mesmo quando ele a jogou para dentro do quarto dela e fechou as portas. Ela continuava a gritar palavras sujas contra os dois.
- Não saia daí. Deixe Lucilly em paz.
Ele se afastou dos gritos que vinham de tras da porta e caminhou pela ultima vez naquele dia para o quarto de Lucilly, dessa vez ela chorava, seus cabelos sempre alinhados estavam incrivelmente belos fora do lugar. Leon se sentia culpado por toda aquela cena. Mas seria um terno momento para ser lembrado enquanto estivesse fora. Ele sentiu algo forte e quente correr por suas veias ao tocar Lucilly novamente, um fantasma daquele beijo, a rapida sensação lhe voltava a mente, ele a queria de novo mas não havia mais tempo para isso, agora era o fim, e o mundo como ele conhecia nunca mais seria o mesmo, toda a inocencia se fora, e a guerra mataria a todos. Quem voltasse estaria marcado para sempre, a vida de antes não teria o mesmo sentido e significado, ele tentava fotografar tudo com os olhos para não se esquecer de nenhum detalhe, de nenhum segundo ao lado dela, de cada traço do seu rosto, do cheiro do seu perfume.
- Adeus - disse Leon Tocando o rosto de Lucilly que estava encolhida.
- minha vida acaba aqui. - foi a unica coisa que Lucilly conseguiu balbuciar depois de alguns instantes apos tentar controlar o choro.

Ele sabia que a vida dela não iria acabar ali, ela era a unica da casa com mais chances de sobreviver a essa vida, a esse ano, a essa guerra. Ela seria forte, ele sabia, ela iria conhecer o mundo, encontrar um bom rapaz e se casar e ele talvez voltaria para ve-la feliz.
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Leon entrou no quarto tirando suas luvas e falando suavemente. Não se notava o perigo em suas palavras sóbrias.
Uma guerra há de vir e logo os amantes se separarão. Os soldados irão correr para nos oferecer proteção e famílias definharão ao toque de recolher.
Leon e Lucilly eram dois irmãos muito unidos, muito íntimos e nada era pior do que a noticia de uma guerra. Ele contou a sua irmã de poucos vividos 16 anos e olhos amendoados, sobre seu alistamento no exercito. Não era algo que ele desejava, não era sua ambição, mas por sua maioridade e o fato de ser o filho mais velho e o único homem da família lhe obrigaram a tal função.
Suas mãos ainda quentes, antes protegidas por uma grossa luva negra encontraram as de Lucilly, tremulas e úmidas. Era inverno e a neve se acumulava no parapeito da janela, mas isso não impedia a pele de Lucilly de vibrar em tons roseados como se estivesse em um abafado dia de verão.
Leon sentou-se na beira da cama ainda segurando as mãos de sua irmã e ela sentou-se para mais próxima dele ficar. Era tarde e ele estivera todo esse tempo na rua, cambaleante e embriagado e Lucilly não conseguira dormir por causa de sua ausência.
O quarto era grande, mas pequeno para tanta preocupação. Leon partiria no dia seguinte e lutaria no primeiro confronto. Lucilly desatou em lagrimas e ele a tomou no colo.
- Não conseguirei dormir... – Ela repetia.
- mas terá. – Leon tentava manter se frio, precisava ficar concentrado em sua ida para o campo de batalha, qualquer distração poderia ser o fim da linha.
Os cabelos de Lucilly eram compridos, sua face úmida queimava em febre. O medo em seus olhos, o medo da arma que poderia mirar o coração de seu adorado irmão.
O quarto estava escuro, o vento assobiava contra a janela. Leon podia sentir o frágil coração de Lucilly pulsar contra seu peito, ele disparava solitário uma canção deprimente de adeus. Então o desespero inundou a cabeça de Leon pela primeira vez, deixando o medo exalar de cada poro do seu corpo, Talvez nunca mais visse sua irmã.
O perfume do cabelo dela agora o estava dando náusea. Largou-a e sem se despedir saiu pelas grandes portas do quarto. Lucilly nada disse, mas em sua mente ecoava as palavras nunca ditas, Eu te Amo.

A cabeça de Leon estava cheia, e nenhuma embriagues seria capaz de afastar seus problemas, o dia estava chegando e esse dia era amanhã, ainda restava algum tempo antes do sol nascer. Caminhou em direção de seu quarto, mas no corredor havia uma figura fantasmagórica vestida em veludo cor de sangue, os olhos caídos mal piscavam e ele sentia repulsa de tal imagem.
- Não vai se despedir de mim? – Disse a figura com a voz arrastada.
- Não gaste todo nosso dinheiro enquanto eu não estiver aqui para controlá-lo. Espero ver tudo em ordem quando voltar e... - ele apertou os olhos perigosamente. - se Lucilly não estiver bem, pode acreditar que nessa casa você nunca mais vai colocar os pés.
- Não preciso do dinheiro de seu pai, acho que sabe disso. – a mãe de Leon respirava cinismo.
- Eu não quero aquele homem na minha casa e nem perto de Lucilly, sei bem que ele não é respeitável.
- Você nada sabe da vida, muito menos o que respeitável significa. Não sabe o que é ser homem de verdade. E ele tem o que mais vale nessa vida, dinheiro... dinheiro para me banhar de presentes.- Leon se encolheu com essas palavras, mas por nojo.
- Tente ficar sóbria para cuidar de sua filha. – Ele falou apenas por falar. Lucilly estava só e ele temia por ela e sua inocência. Ela cresceu sem pai, Leon era sua única imagem paterna, sua única imagem masculina e de poder. Ele esperava que sua influência sobre ela a mantivesse longe de coisas desagradáveis.
Eleonora fechou os olhos e absorveu as palavras que não tinham sentido. Entrou no quarto e trancou as portas. Ela não via à hora de o sol nascer e aquele pesadelo, aquela sombra de seu falecido marido desaparecer enfim. Leon controlava tudo na casa desde a morte do pai, e isso a irritava profundamente, desejava sua morte, assim como desejava a dele, que morreu silenciosamente na cama ao seu lado, segundos após parar de respirar. Ninguém nunca entendera tal tragédia, mas Eleonora se confortava com roupas caras e na cama vazia só para ela.

Maravilhado como quão detestável um ser humano pode ser , Leon caminhou até seu quarto e deixou Eleonora a sós com seus pensamentos, uma mãe tão despresivel não merecia explicações, o fato de Lucilly ficar só, caso ele não conseguisse voltar da tal inevitável guerra, o fazia tremer inconscientemente. Seus pensamentos lutavam uns contra os outros tentando afastar ideias inconcebíveis. Lucilly agora se encontrava aos pantros, Leon não queria imaginar como seriam os proximos dias, mas ele tinha a imagem nitidamente pintada em sua mente, Lucilly caida sobre a ponta da cama, Esparramada com seu vestido branco, a face branca como a de um anjo, chorando continuamente esperando aflita sua volta. Ele preferia trair sua Patria e ser um Desertor, mas sabia que isso colocaria em risco Lucilly, eles iriam atras dela tentando o encontrar, e quem sabe o que fariam contra seu corpo puro e intocado. Sua cama parecia mais fria do que nunca, sua pele demorou a se acostumar com o toque do tecido, então começou a imaginar como seria agora em diante, no campo de batalha onde os dias nunca terminariam e a noite só cairia para o confundir, ou talvez até entreter se a lua não estiver coberta pela nevoa negra dos canhões.
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