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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Parte Quatro - Atormentado

Noah Verch fugia da guerra. Um desertor, um soldado qualquer, inmundo, ferido no braço, se arrastando, desejando uma cama, sonhando com alguem que o protegesse do exercito do qual fugira. Era dia e Noah esgueirava-se pelas sombras, queria se livrar daquele uniforme, estava longe da cidade, mas por aqueles casarões deveriam morar senhores da alta sociedade, ex-militares que adorariam o ver na forca. Foi nesse momento de fuga que ele a viu, debruçada sobre uma grande janela, os cabelos loiros esparramados pela neve acumulada no parapeito, ela parecia desejar o chão, cada instante se colocava mais a frente, ela parecia estar ali para encantar os meros mortais com sua beleza, um ser como aquele não morreria ao tocar o chão, flutuaria antes de o encontrar, ele agora a chamava com os olhos vidrados.
- Senhorita! - Noah desesperado notou que a jovem desaparecera após ouvir sua voz.

Lucilly se encontrava embaixo da janela. Seus joelhos fizeram barulho ao tocarem o chão, seu vestido branco lhe protegeu de uma possivel ferida. Ele a pegara em um momento de tristeza profunda, ele a interrompeu talvez por bem, o que seria dela se tivesse feito o que planejava? Aquele rapaz...Parecia estar de uniforme, será ele algum amigo de Leon que viera lhe entregar alguma mensagem? Lucilly levantou-se e procurou o rapaz de uniforme mas ele não se encontrava.
- olá? - Lucilly escutou a mesma voz a chamar, mas não encontrava o dono.
- sim? - Ela começou a ficar ansiosa, por que o rapaz insistia em se esconder? Havia algo de errado?
- Senhorita, me perdoe... não deveria estar aqui.
- Um desertor? - Lucilly suspirou, nenhuma mensagem de Leon - Não desejo lhe falar.
- Permita-me! - Noah caminhou em direção ao sol, se colocou em lugar onde Lucilly podia o ver. Ela o achou charmoso apesar de toda a sujeira que cobria seu rosto, havia largas manchas roxas debaixo de seus olhos. Lucilly sentiu pena, imaginava que aquele poderia ser Leon pedindo ajuda a outra pessoa, ela ficaria triste se negassem a ele um pedido, apenas por isso permetiu o rapaz de falar.
- prossiga.
- Estou a dias caminhando, meu front era distante daqui, sinto se a decepciono por não estar lutando por meu país, não a defendendo bela senhorita, não sei lutar, não nasci para segurar uma espada, uma arma... posso descansar por apenas um dia em sua grande casa? eu durmo em qualquer canto, a dias descanso no chão.

Lucilly não podia negar, precisava pensar em Leon, poderia ser ele em algum canto desesperado por um abrigo, então em silêncio ela desceu as escadas do casarão, Eleonora desmaiara em seu quarto após uma noite de comemoração com seu amante, e diversas taças de vinho. Noah se encaminhou até a porta onde a jovem se encontrava, pálida e majestosa, o vestido branco caia suave sobre sua pele, os cabelos loiros compridos caiam em cascata sobre suas costas, os labios tão vermelhos se destacavam mais do que os belos olhos amendoados, uma cor rara no meio de tantos olhos azuis, ela era bela demais para existir, Noah duvidou de seu bom senso, ele deveria ter surtado, perdido o juizo, os extensos dias de caminhada, sem agua sem comida definitivamente prejudicara sua mente, sua visão.

Noah e Lucilly subiram as escadas sem pronunciar palavra alguma. Lucilly o deixaria descansar em seu quarto, Eleonora não deveria saber, ela contaria a todos na cidade sobre o rapaz e o exercito viria o pegar. Ele parecia deslumbrado com a casa, ou com ela, Lucilly não saberia dizer. Algo parecia errado com ele, seus olhos estavam opacos, ele deveria estar com fome, Lucilly decidiu que tomaria conta dele até o brilho natural de seus olhos voltarem. Noah tombou assim que entrou no quarto.

Lucilly tentou o acordar, e Noah muito fraco e quase inconsciente levantou-se e foi arrastando-se até a cama, por fim desmaiou. Lucilly buscou lenços e uma bacia com água, tentou ser silenciosa ao descer e subir as escadas, Eleonora estava no quarto proximo ao seu, então sentou-se ao lado do jovem rapaz e começou a limpar seu rosto, havia beleza em seus traços, ela tentou imaginar sua historia, e seus verdadeiros motivos por estar fugindo, alisou seus cabelos e lhe beijou a testa, temia que com aquele ato não o estivesse beijando e sim a Leon. Ele estaria bem debaixo dessa neve? enfrentano tantos perigos? ela deseja sentir o coração dele batendo proximo ao dela, implorara a algum ser supremo que permetisse que o coração dele continuasse a bater e voltasse intacto para ela, o coração de seu amado irmão.

Noah começou a transpirar e a tremer compulsivamente, Lucilly se assustou, não sabia o que fazer, notou que o rapaz ardia em febre, agora temia que ele pudesse falecer em sua cama, onde tanto sonhara com Leon, onde tanto sonhava com a vida fora daquela vila. Ela colocou um dos lenços na testa do rapaz e começou a fazer a unica coisa possivel naquela situação, juntou suas mãos as dele e orou.

Noah suspirava nomes desconhecidos a ela e se contorcia de dor, o ferimento em seu braço parecia ser a causa do sofrimento, Lucilly se sentia sufocada, não podia fazer nada pelo rapaz em sua cama caminhava de um lado para o outro, enfim decidiu correr até a casa do medico de sua familia, felizmente era proxima a dela, o que diria quando chegasse lá? Ela não podia esperar nem mais um instante, o rapaz estava preso a sua cama e ela precisava agir. Correu, correu como nunca fizera na vida, tropeçou pela falta de costume, ralou a mão no chão de areia, mas decidida continuou. O caminho parecia mais longo do que de costume, estava ofegante ao chegar no casarão do Doutor, seu vestido ficou manchado nas bordas graças ao tropeço, e tentando recuperar o folegou ela gritou por ele.
- Doutor, preciso de ajuda! Doutor, alguém? lhe imploro que me atenda! - Lucilly gritava ao mesmo tempo que batia a porta.
Uma senhora de idade apareceu, vestindo um longo vestido preto e um avental branco.
- O Doutor não se encontra. - disse a senhora.
- eu preciso de ajuda! há um homem ferido em minha casa!
- Creio que posso ajuda-la... trata-se de um soldado Senhorita Lewinsky?
- como sabes? - Lucilly prendeu a respiração, ela sentiu uma ardencia nas maçãs do rosto, a corrida fizera seu sangue correr forte pelas veias e estourar em sua face.
- tempos de guerra, não é diferente de quando ainda era jovem e uma grande guerra como essa também explodira, cuidei de varios soldados caidos na beira das estradas de areia, suplicando por ajuda e por proteção, ninguém respeita desertores.
- venha comigo senhora! lhe peço! - Lucilly tomou suas mãos nas dela, precisava da ajuda e do sigilo daquela mulher.
- deixe me pegar alguns medicamentos.

Com a ajuda da velha senhora, Lucilly cuidou de Noah, seu ferimento agora estava escondido por debaixo de algumas ataduras, ele deixara de se contorcer, a morfina fizera efeito, Lucilly sentiu-se grata por isso e à mulher que muito sincera jurou manter segredo e partiu do casarão. A cama era grande o suficiente para os dois, Eleonora não bateu em sua porta durante o restante do dia, era um bom sinal, então ela trancou a porta e viu o sol cair por detras das montanhas, a lua surgiria em breve mas decidiu deitar-se antes de ve-la. Lucilly caminhou para a ponta da cama, ela se deitaria ao lado de um estranho, um desertor, ela poderia ficar na outra ponta longe dele, mas decidiu aproximar-se e alisar lhe os cabelos, admirando seu rosto novamente, os belos traços do rapaz que gritara por ajuda em sua janela. Lucilly agora desejava saber seu nome...Que nome combinaria com sua face? Ele parecia tão jovem. Após tanto ponderar, entregou-se aos devaneios e a inconsciencia, deslisando suavemente para o mundo dos sonhos, onde um novo rosto se unira ao de Leon.

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